Protágoras X Sócrates


Ao analisarmos "Mito e discurso de Protágoras", de Platão, nos deparamos com uma questão relevante acerca do ensino da virtude (areté). 


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Cerâmica - Mito de Prometeu
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Para Sócrates, a virtude não constitui uma ciência, portanto, não é ensinável, mas, Protágoras afirma que todos possuem a virtude em potência e que é possível ensiná-la. Para provar que a virtude pode ser ensinada, Protágoras discorre então sobre o mito de Prometeu e Epimeteu. 

Segundo o mito, os deuses resolvem criar as raças mortais e as modelam com terra, fogo e limo, e encarregam os irmãos gêmeos Epimeteu e Prometeu de repartir os poderes. Epimeteu combina   com o irmão que após a repartição o outro fará a inspeção, e assim sucede. Todavia, durante a repartição, Epimeteu confere todas as qualidades e os poderes aos animais, para que diferentes espécies possam sobreviver,  e se olvida da raça humana. Diante da inspeção de Prometeu, o mesmo percebe então que o homem se encontra desprovido, sem roupa e sem armas, e diante disso, ele rouba a sabedoria artística  e o fogo de Hefesto e Atenas e dá ao homem. Vale ressaltar, porém, que com o fogo, o homem passa a usufruir da sabedoria da vida mas não grassa da sabedoria política que está sob a posse de Zeus. Com a sabedoria herdada de Atenas, o homem cria a linguagem, realiza suas obras, constrói casas, faz roupas e procura alimentos, mas não tem o domínio da arte da política e da guerra. Sem a arte da política, o homem tampouco sabe governar e viver em sociedade, e passa, portanto, a destruir sua própria espécie. Como não domina a arte da guerra, o homem não consegue vencer as feras e se torna também vítima delas. Diante disso, o homem começa a desaparecer, e, Zeus manda seu filho Hermes (o mensageiro)  distribuir para todos os homens o pudor e a justiça.

Neste diálogo de Platão nos deparamos com duas opiniões contrárias, a de Sócrates e a de Protágoras. Estabelece-se uma disputa entre o filósofo e o sofista, e Sócrates pede a Protágoras que explique sobre a arte de ensinar a ciência politica.
Protágoras mostra que, antes de tudo, ele ensina a prudência na administração dos assuntos domésticos e a habilidade para agir e falar em público.

Mas é possível ensinar a virtude (areté) em que se baseia a arte política (tékhne politiké)?

Enquanto Sócrates contesta, Protágoras, por sua vez, tenta provar que a virtude pode ser ensinada, visto, que é punido quem não a têm, por exemplo, pune-se alguém que é culpado para evitar que outros o imitem, assim como para que o culpado aprenda,  ou seja, pune-se para ensinar a virtude. E esse é o objeto da educação ateniense, todos querem ensinar a virtude: pais, mães, aias, preceptores, e até o Estado, através das leis.

Por fim, ambos concluem que a virtude é uma só, que ela é ciência e portanto pode ser ensinada.

O sofista e o filósofo conduzem o discípulo pelas veredas do conhecimento, da moral, da política e do bem viver. E o que é o ofício do professor, senão produzir conhecimento junto com o seu interlocutor?



Referências:

CASSIN, Bárbara. O Efeito Sofístico. São Paulo: Editora 34, 2005.

VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica; trad. Haiganush Sarian. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 





 







 

   

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